“Escolhi a saúde e superei diversas quarentenas que tiver que fazer na minha vida”, conta atleta paralímpico

O atleta paralímpico João Saci dá o seu exemplo de motivação para se manter com o corpo e a mente sadios mesmo em períodos de isolamento e conta alguns dos obstáculos que teve de superar em sua vida e na sua luta contra o câncer.

Um estudo publicado em março pela conceituada revista médica britânica Lancet abordou o medo e a solidão sofridos por aqueles que enfrentam uma quarentena como consequência do coronavírus. Os autores do artigo usaram três bancos de dados de estudos médicos anteriores e concluíram que os efeitos psicológicos negativos da quarentena incluem estresse pós-traumático, confusão e raiva, além de ansiedade.

O atleta paralímpico João Saci é um exemplo de resiliência e motivação em tempos de crise. Ele conta que esta situação que vivemos hoje de quarentrena é apenas mais uma das inúmeras restrições que viveu em sua vida, já que passou por diversos tratamentos, internações e quimioterapia, quando foi vítima por 5 vezes de um câncer que levou mais da metade de um dos pulmões e o fez amputar uma das suas pernas. “Todas as vezes em que estive internado, impossibilitado de sair do meu lugar, vivendo uma espécie de quarentena por causa do câncer, com a minha mobilidade reduzida pela amputação e minha capacidade respiratória comprometida pela perda de mais da metade do meu pulmão, em todas essas situações, em que muitas vezes mal podia me mexer. olhei para frente e busquei forças para superar.”

Esporte como escape da prostração

O atleta paralímpico conta que o esporte foi fundamental para superar as sucessivas situações de revés em sua vida: “Sempre digo que o esporte me ajudou a superar os obstáculos da minha vida. do preconceito, do medo de não ser aceito, de achar que ninguém iria se interessar por mim, ou de colocar as minhas limitações como um empecilho. Me achava tão diferente das outras pessoas, mas quando eu estava dentro da piscina, nadando, via que era igual a qualquer um. E isso me deu forças para prosseguir.”

Através da superação das limitações físicas por meio do esporte, João Saci conta que veio também a certeza de que poderia vencer em qualquer outra área: “ Durante muito tempo nadei porque era algo que me fazia muito bem. Entendia que aquela atividade me trazia benefícios e independência motora, que assim eu poderia fazer as coisas que gostaria, pois tinha preparo físico para tal. E hoje, graças ao esporte, me sinto capaz de encarar desafios ainda maiores, seja na minha vida pessoal ou ir escalar o Everest, por conta do preparo físico e mental que atividade me dá.”

João Saci estava de malas prontas para escalar o Everest em abril deste ano, mas a entrada de alpinistas no Nepal e no Tibete foi proibida devido ao surto do novo coronavírus: “ainda penso em ir escalar o Everest agora em outubro deste ano, realizar mais esta meta. Tudo vai depender de como vai estar a situação da pandemia até lá”.

A Sociedade não está preparada para o deficiente físico

O atleta conta que uma vez postou no Instagram uma fotografia subindo escadas de muleta em em Florianópolis: “aquelas escadas me mostravam que o mundo não estava preparado para pessoas com deficiência, que as coisas eram projetadas para pessoas normais. No entanto, que mesmo assim, eu queria conhecer o mundo e eu deveria me preparar pra isso. Lógico que algumas deficiências limitam mais que outras, mas a atividade física e o mindset fazem toda a diferença. Se o mundo e a sociedade infelizmente ainda não são totalmente inclusivos, então vou fazer acontecer, do meu jeito, com garra, perseverança e fortalecendo o corpo e a mente.”

João Saci revela que a determinação de um deficiente físico em fazer coisas comuns causa admiração nas pessoas: “Lembro de uma viagem que fiz para Portugal por causa do meu programa de pós graduação. Fomos numa cidade chamada Óbidos e o meu professor ficou admirado que tava caminhando por toda muralha e na hora que ele viu, eu estava na torre mais alta da cidade. Eu disse a ele que isso não era nada perto de um cara que eu vi em uma competição que mexia praticamente só o pescoço, nadando uma prova de 50 metros livre. Aquilo pra mim foi um exemplo, que apesar de toda limitação que ele tinha, de toda a dependência para fazer as coisas.”

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